Migrantes deslocados de Paris: ONG denunciam “limpeza” antes dos Jogos Olímpicos

Situações como esta têm-se repetido em França: Grupos de migrantes e de sem-abrigo que chegam de autocarro a locais espalhados pelo país, vindos de Paris. Foi o que aconteceu agora em Orleães, com a chegada de mais um autocarro com um grupo que vai ficar num hotel reservado para este fim.

As autoridades dizem que isto se deve à saturação dos centros de acolhimento na capital, mas os críticos têm outra explicação: trata-se de “limpar” Paris antes dos Jogos Olímpicos.

Serge Grouard, presidente da Câmara de Orleães, diz que a cidade já recebeu cerca de 500 migrantes vindos de Paris, no espaço de um ano: “Desde maio de 2023, chegam de Paris a Orleães autocarros regulares, um de três em três semanas, com aproximadamente 30 a 50 pessoas por autocarro. Não tenho a certeza que tenha a ver com os Jogos Olímpicos, mas é óbvio que a coincidência é um pouco perturbadora”, diz.

Não tenho a certeza que tenha a ver com os Jogos Olímpicos, mas é óbvio que a coincidência é um pouco perturbadora.

Serge Grouard Presidente da Câmara de Orleães

A prefeitura do departamento de Loiret respondeu através de um comunicado de imprensa, confirmando os números e a criação de um “centro de acolhimento”, mas negando qualquer “ligação com a organização dos Jogos Olímpicos”. As associações humanitárias denunciam uma “limpeza social”.

“Aconselharam-me a mudar de região. Disseram-me que havia muita gente por causa dos Jogos Olímpicos”, diz uma mulher sem-abrigo.

Paul Alauzy, da ONG Médicos do Mundo, denuncia: “Se a ideia é apenas esconder a miséria e os sem-abrigo por toda a França, sem dar mais recursos às autoridades locais, e para limpar o ar antes dos Jogos Olímpicos, não está a funcionar a nível humanitário”.

O Estado financia e organiza estas transferências de autocarro a partir da região parisiense, mas, segundo a explicação, apenas para “aqueles que o desejarem”.

É-lhes proposta uma escolha de dez cidades de destino, entre elas Rouen, Bordéus, Toulouse, Marselha e Lyon. Os serviços do Estado preveem que, no dia seguinte ao da chegada, um assistente social vá ter com eles. Este acolhimento num centro temporário dura teoricamente três semanas, antes de uma reorientação em função do estatuto do direito de permanência.

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